Nada é mais forte, admirável e
formidável do que uma mulher que sabe o que quer e não tem medo de ser quem é.
Nascida em uma época em que as mulheres eram tidas somente para cuidar das
atividades domésticas e principalmente reproduzir (parir), Joana Cabral Dias
foi muito mais além, empreendeu e comercializou como poucos, numa sociedade
extremamente machista e conservadora, em que a mulher não tinha direitos de
intervir em negócios que eram exclusividade dos homens.
Filha, irmã, tia, prima,
sobrinha, esposa, mãe, avô, bisavô, trisavó (tataravó), irmã em cristo,
conselheira. Quantos adjetivos mais teriam de se usar para definir essa mulher?
Por toda a sua história, o adjetivo Heroína o representa no mais amplo sentido
da palavra.
Joana Cabral Dias carrega consigo
vários pseudônimos: Mãe Joana, Vovó Joana, Dona Joana e principalmente Irmã
Joana Paula, como é conhecida em toda Santa Luzia do Paruá - Maranhão. Nasceu
em Curralzinho, município de Pinheiro – Maranhão, em 28 de março de 1940. Filha
de Raimundo Peixoto e Maria da Glória Cabral, sendo ela a sexta filha de treze
irmãos. Constituiu uma família numerosa; 02 filhos, 08 netos, 19 bisnetos e 01
trineto (tataraneto). Teve uma infância pobre e sofrida, não estudou. Ainda
criança, teve que ajudar os pais na lida diária, como não tinha tempo para
estudar, dividia o nas tarefas domésticas e no alambique de cachaça da família.
A vida lhe ensinou que a honestidade e o caráter são ferramentas essenciais para
uma pessoa vencer na vida. Casou muito nova (quinze anos), com o senhor
Raimundo Paulo Dias (in memorian), homem virtuoso, como ela o denomina. Teve o
seu primeiro filho aos dezesseis anos, esse morreu ao nascer. Um ano depois,
nascia Maria Helena Cabral Dias, hoje advogada. Conta dona Joana que quando
Helena nasceu, a pobreza era tão extrema, que não puderam cria-la, sendo
entregue para o seu avô com um ano de idade.
Com tanta pobreza, aprendeu a quebrar coco babaçu, pescar e ajudar o
senhor Raimundo Paulo no plantio e colheita da roça. Com muitas idas e vindas,
a vida foi melhorando, já possuía uma quitanda, algumas cabeças de galinhas,
uns porquinhos e um pouco de legumes no paiol.
Seis anos passaram, nesse período, muda-se de Curralzinho para o Moite, localidade
essa encravada na zona rural do município de Santa Helena - Maranhão. Junto com
a mudança para o Moite, vem o nascimento do seu terceiro filho, José Ribamar
Cabral Dias (Zequinha da Pinheirense), empresário. Ela relata que quando
engravidou de Zequinha fez uma promessa para São Jose de Ribamar, promessa
essa, que se tivesse um bom parto, deixaria o cabelo de Zequinha crescer, e que
só seria cortado na igreja da cidade de São José de Ribamar – Maranhão. O
engraçado dessa promessa, é que devido não ter condições de ir até a cidade de
São José de Ribamar, faz um acordo com o padre da paroquia de Santa Helena,
para pagar lá mesmo. São muitos “causos” como diz o seu filho Zequinha, um
desses tantos, que certo dia, não tinha ninguém que ficasse olhando Zequinha,
para que pudesse quebrar cocos. Num instante, teve uma ideia, cavou um buraco
na terra, colocou água e pôs Zequinha dentro, para, enfim, trabalhar. Os anos
foram passando e com ela a vontade de morar em lugar maior, Raimundo Paulo
comercializava o que produzia (arroz, farinha, milho, feijão, etc.) naquelas
localidades perto do Moíte. Esse transporte era feito por tropeiros (em lombos
de burros). Sempre que podia, dona Joana acompanhava o senhor Raimundo Paulo
nessas viagens. Foi numa viagem dessas que dona Joana teve a ideia e perguntou
para o senhor Raimundo Paulo o porquê deles não mudarem para um lugar mais
desenvolvido, onde pudessem aumentar o comércio e colocar os filhos para
estudar. Senhor Raimundo Paulo retrucou e disse que ainda não era hora de sair
do Moíte. Dona Joana, muito jeitosa, aos poucos foi convencendo o senhor
Raimundo Paulo para fazer a mudança. A ideia inicial seria mudar para Bragança
no estado do Pará. No entanto, entra na história o Compadre Januário, homem de
visão futurista, e argumenta que o melhor era mudar-se para Santa Luzia do
Paruá, por lá ser uma localidade nova (na época) com um crescimento acelerado e
um impressionante potencial para o comércio (secos e molhados). Assim o fizeram e, no ano de 1973, chegam a
Santa Luzia do Paruá-Maranhão. Em Santa Luzia do Paruá, se estabeleceram no
prédio que hoje funciona a secretária da assistência social e a casa ao lado
próxima a escola Laura Estrela. Dona Joana relata que o compadre Januário
estava certo quando o fez os mudarem de ideia.
Foram algumas décadas nesse endereço. Prosperou e ajudou Santa Luzia do
Paruá comercialmente, pois, ao longo dos anos fora um dos maiores comércios de
secos e molhados da região. Em 1983 compram a casa que hoje funciona o Centro
Administrativo do Grupo Pinheirense. Foi
peça fundamental na emancipação política de Santa Luzia do Paruá no ano de
1987, como é uma pessoa articulada, ajudou muito o nosso município se
desmembrar de Turiaçu. No ano de 1992
veio outra mudança, essa não foi de cidade, mas sim, de endereço. Venderam a
casa que funcionava o comércio e a casa de moradia, comprando a Chácara onde
residem atualmente. Talvez de toda a trajetória de vida de Joana Cabral Dias,
não tenha existido um ano mais difícil que o de 2005, ano em que perde o seu
esposo Raimundo Paulo Dias. Morre no dia 20 de dezembro, e deixa em sua alma
uma lacuna que jamais será preenchida. Dona Joana continua viva, lúcida, sendo
ainda uma mãe, avó, bisavó e tataravó presente na vida de seus familiares.
Essa é Joana Cabral Dias ou
Simplesmente Irmã Joana Paula, biografada texto acima. Mulher guerreira,
batalhadora passou por muitas adversidades, mas mesmo assim, conseguiu vencer
na vida sem precisar passar por cima dos seus princípios.
Texto
Por:
Silvio Silva